VARANDA CLARALUNA
(Claraluna foi o pseudônimo que usei durante muito tempo aqui no RL, depois passei a usar meu nome verdadeiro: Hull de La Fuente)
O que vocês vão ler a seguir é uma mensagem enviada por e-mail, pela minha querida amiga Fernanda Araújo. É uma rápida narrativa sobre o pequeno jardim suspenso, da sacada de sua casa, em Divinópolis.
Uma vez ela enviou-me a foto de uma linda rosa nascida na sacada Claraluna. Sim, ela batizou a varanda com o meu nickname. É claro que dava pra ver que outras espécies eram cultivadas ali. À época eu fiquei muito feliz com a homenagem, mas não publiquei a foto da rosa, mas agora o fato é por demais curioso, eu tenho que dividir com vocês.
Verdadeiramente, aqui, em se plantando, tudo dá.
Leiam a mensagem:
O aipim antes de ir ao fogo. A Lucia ainda estava na dúvida se cozinhava ou não.
"Hull,
na Varanda Claraluna aconteceu um fato inédito.
Ano passado, não registrei a data, ganhei uma rama de mandioca. Fazer o que com ela? Coloquei-a num vaso que estava desocupado. O tempo foi passando e fui aguando a contento quando vi soltar alguns brotinhos. Eles cresceram e fiquei pensando se de fato ia na raiz brotar uma mandioca. Perguntei a um agricultor o tempo para se ter mandioca. Respondeu-me que era em torno de um ano e meio. E eu sem saber a data certa. Minha mãe me disse que quando desse flor podia arrancar o pé que teria a mandioca. Aí ficou mais fácil e passei a vigiar o pé esperando pelas flores.
Domingo, dia 2, fiquei surpresa quando vi pequenas flores bem na pontinha dos galhos. Como estava saindo para a roça deixei quieto e ontem choveu muito. Hoje cedinho, quando o dia clareou decidi arrancar o pé de mandioca. Estava muito curiosa. Fiquei numa emoção, numa alegria tão grande ao ver uma pequena mandioca ali no meio de pequeninas raízes. Lavei a pequenina, tirei foto e levei-a para a cozinha. Será que iria cozinhar? Outra dúvida.
Tirei foto dela picada e crua. Levei-a a cozinhar. Em pouco tempo ela estava cozidinha. Vi que era daquela qualidade de mandioca amarela. Ficou linda e gostosa!
Estou enviando fotos do pé, da mandioca inteira, dela crua e cozida.
Guardei as ramas para repetir a façanha.
Deus seja louvado!
Grande abraço.
Lucia"
Foto do aipim cozido pela Lucia, parece que está bom.
Recomendação aos manos:
Mas pro Airam e Pedrinho
eu peço por caridade
se fizerem um cordelzinhohaja os dois com lealdade.
A mandioca milagrosa
Nasceu foi numa sacada
Junto ao belo pé de rosa,
Claraluna foi poupada.
Beijos, meninos queridos,
Prestem muita atenção
Vocês são manos amigos
Vivem no meu coração.
Cuidado com essa mandióca
Pedrinho, veja o que diz,
Se bancares o boboca
A Lucia guardou a raíz.
Abraços,
Hull
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FANTASMINHA LABORIOSA
Minha amiga Rose, a “dona e proprietária” do Salão Imagem, vive tendo experiências com almas do outro mundo. E eu aqui do alto da minha fé cristã, pergunto-me: "que mundo e esse? Mas voltando às visões e ruídos que ela ouve, vou contar sua experiência mais recente, com o sobrenatural.
Três horas da manhã, Rose ouve barulho de louças e panelas vindo da cozinha de sua casa, em seguida ouve como que o barulho de uma colher caindo dentro da pia de inox. Achando que é seu filho Pedro Paulo chegando da farra, ela vai até o local. Do corredor, percebe que a luz está acesa e vê uma mulher lavando louças na pia. Pensando tratar-se de uma amiga de Pedro Paulo, aproxima-se e diz:
_ Oi! Tudo bem?
A mulher primeiramente enxuga as mãos no pano de prato que está sobre a pia e só então se volta para Rose. É uma mulher jovem. Em seguida, sem dizer uma palavra, ela passa através do vidro da janela e desaparece.
Rose ficou estática. Sem ação.
Depois de alguns segundos, foi até a pia e viu a colher que a fantasma havia deixado cair.
Rose confessou às clientes do salão que desde menina, tem essas experiências estranhas.
Eu sugeri que ela lesse o Salmo 91 em cada um dos aposentos de sua casa e que durante a leitura convidasse o Senhor Deus, que tudo pode, para estabelecer um pedaço de Seu Reino ali na casa. Pois na casa em que Deus habita só Ele tem poder.
Mas minha amiga disse que vai chamar um padre.
As outras clientes que ouviram o relato deram risadas. Uma delas sugeriu que a Rose separe a roupa pra lavar e passar e deixe num lugar bem visível com o seguinte bilhete:
“Dona fantasma, já que a senhora lavou a louça, por favor, complete o trabalho. Se souber cozinhar, adiante o almoço. Obrigada.”
Se você mora em Brasília, venha conhecer o Salão Imagem. Garanto que você vai ouvir os mais incríveis relatos e dar boas gargalhadas.
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O POLEIRO REAL
(Hull de La Fuente)O rei Galo e sua Galinha
Era um casal admirável
Lá no reino aonde tinha
Um tesouro invejavel.
O rei Galo comandava
O poleiro com amor
E sua rainha botava
Ovos de muito valor.
Toda manhã vinha o povo
Ouvir o seu cacarejo
Quando ela botava o ovo
Que alegrava o vilarejo.
Um lindo ovo dourado
Sem a clara e sem a gema
Ouro puro, bem pesado,
Um mistério, um teorema.
Mas uma raposa faminta
Apareceu no poleiro
Com jeito que deu na pinta
Assustando o galinheiro.
A rainha desde então
Sentiu-se desprotegida
Pegou medo de ladrão
Deu outro rumo a sua vida.
Sabe-se que a carijó
Pôs um ovo derradeiro
Deixou o rei Galo só
E foi cantar noutro terreiro.
Contou-me a amiga Chica
Moradora lá do Sul
Que a carijó ficou rica
Vendendo ovo azul.
Ela tem sua própria granja
Não tem rei pra perturbar
Raposa lá não se arranja
É a rainha do lugar.
Se você pensava ler
Um final bem diferente
Tente o amigo escrever
Que me fará bem contente.
***
Publicado também no http://sementinhasparacriancas.blogspot.com/2010/08/o-poleiro-real.html
Blog da Rejane Chica, de quem sou colaboradora com muito orgulho.
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Um anjo acordou-me esta noite
No meio da noite, inexplicavelmente, Ivonide desperta. Há um silêncio absoluto no quarto.
Seus olhos acostumam-se a escuridão e então ela pressente que não está só.
Há uma presença apenas sentida. Sim! Uma doce presença que faz com que ela experimente muita paz. Elevando seus pensamentos ao Criador, imediatamente, como num filme, imagens começam desfilar em sua mente.
Vê-se aos treze anos de idade, a caminho da escola, de uniforme e cadernos na mochila. Naquele momento não pensa nas matérias que deveria estudar. No seu pequeno coração só há lugar para o sentimento que acaba de descobrir: o amor.
Ela segue o caminho e se pergunta: como uma menina inexperiente, cujo corpo ainda está em formação, pode viver tamanha revolução de sentimentos? O que se passa no meu interior? Será correto criança apaixonar-se? Como saber o que é correto ou incorreto? Será verdadeiramente amor ou apenas a descoberta da sexualidade, de que falou a professora?
Ivonide vê seu corpo em formação externa, pois internamente sente que seu coração já está formado, ele é enorme, carregado de amor. Ela experimenta a mais linda sensação que jamais sentira. O seu amado é tudo o que quer pra toda vida. Nada terá sentido se ele não puder ser seu.
O filme continua rodando e nele sua ingenuidade é evidente. A menina que se casa e se dá ao amor do homem amado. Nele deposita todos seus sonhos e esperança. A esperança de juntos construírem um mundo, uma vida. O sonho de ser para sempre feliz ao lado dele. Ivonide vê seu pai triste. Ele não concorda com seu casamento prematuro. Mesmo não tendo sido criada ao lado do pai, ela sente um forte remorso. Poucos dias depois do casamento o pai morre, seria sua culpa?
E chegam os filhos. Gêmeos. Com eles também veio à descoberta de que o sonho é realmente sonho. A dura realidade não poupa a menina. Como é possível uma mulher-criança parir e cuidar de duas outras crianças? Mas o Senhor Deus estava ali. Ele viu cada uma de suas lágrimas, as lágrimas da mãe menina de quase quatorze anos. Ele deu-lhe forças, amparou-a, deu-lhe confiança e discernimento.
A menina-mãe que não teve adolescência, cresceu junto com os filhos. Cada dia foi um duro aprendizado. A escola interrompida foi “recuperada” na vivência diária, dentro da própria casa. Como era duro aprender.
O filme mostrou-lhe os quatorze anos de muita luta até os dias atuais. No escuro do quarto Ivonide se pergunta: “onde estão os meus sonhos? Meu marido é mais velho que eu, ele pensa que eu raciocino como ele, mas não é verdade. E o amor?” “Viverei de novo todas as emoções que esse sentimento proporciona? Ainda sentirei aqueles choquinhos tão deliciosos que o simples encostar de ombros proporcionam?” “Viverei a mesma doce expectativa dos encontros marcados?”
– Ah! Minha jovem filha! – responde a voz do anjo – Siga seu coração, vá até aonde ele a levar. Os seus sonhos estão guardados no fundo deste seu coração. Eles poderão ser resgatados lá no distante mundo da esperança. Você precisará, contudo, de parceria, de cumplicidade. O seu amor lhe ajudará com o muito amor que tem pra dar. Com ele ao seu lado, você viverá tudo o que imaginou pra sua vida, tudo o que foi negado, por suas prematuras escolhas, nesse seu período de crescimento.
O amor é mágico, é elástico. Ele aumenta ou diminui na proporção em que se percebe que se é correspondida, que se é valorizada como mulher e companheira.
A sua alma romântica aguarda o momento desse resgate de sonhos não vividos. E com o amor, ou com a força por ele transmitida, você viajará novamente pelas nuvens, como o fez tantas vezes, aos treze anos de idade. Com certeza em cada uma das nuvens por onde passar, o amor estará a sua espera e a envolverá, cada vez, de modo diferente.
O filme parou de rodar nesse ponto. Foi linda a visita do anjo. O Senhor Deus o mandou para tranqüilizá-la, para dizer a ela que Ele, o Deus que tudo pode, está no controle de sua vida.
Ivonide entendeu o sonho e no silêncio da noite balbuciou: “Obrigada por isto, Senhor!”
Depois, cobrindo-se com os lençóis, agradeceu ainda: “AMOR, Obrigada por fazer parte da minha vida, você foi, é e será sempre bem-vindo, mas além de amar, eu quero ser amada.”
(Hull de La Fuente)
Obs.: A Ivonide existe. Ela foi minha colega de trabalho por um tempo, lá no Ministério do Trabalho. Às vezes ela deixava escapar trechos de sua vida. Daí nasceu este texto. Que Deus tenha misericórdia dela e sonhe os seus sonhos.
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O LOBO MAU DA ITÁLIA
(Capitulo final)
Republicação dedicada ao poeta Edson Gonçalves Ferreira.
_Vós não deveis temer a boca de um pequeno animal, antes deveis temer as chamas da boca do inferno. Tornem ao Senhor Deus, queridos. Façam penitencia dos vossos pecados e Deus vos livrará do lobo no presente e, no futuro, do fogo do inferno.
Dito isto, Francisco acrescentou:
_Ouvis irmãos meus! O irmão lobo que está aqui diante de vós, me prometeu e até firmamos aliança, de fazer a paz com vós e de não ofender-vos nunca, em coisa alguma. E vós deveis prometer de dar a ele as coisas de que necessita para viver.
Então todo o povo prometeu alimentar o lobo enquanto vida ele tivesse.
E San Francisco, ali diante do povo, disse ao lobo:
_E tu, irmão lobo, prometes observar este pacto de paz, que não ofenderás nem aos homens, nem aos animais, nem a nenhuma criatura?
E o lobo ajoelhou-se e inclinou a cabeça num ato de aceitação. E abanou o rabo e moveu as orelhas, demonstrando a todos que estava disposto a cumprir o pacto.
Mas Francisco continuou:
_Irmão lobo, eu desejo que tu me dês prova desta promessa, como fizestes lá no campo, fora das portas desta vila. Assim, diante deste povo, me faças prova desta aliança. Proves que tu não me enganarás.
Então o lobo novamente levantou a pata direita e a colocou sobre a mão de Francisco.
E o povo da vila alegrou-se muito. E fez muita festa louvando e bendizendo a Deus, o qual havia mandado San Francisco para livrá-los da crueldade do ex- lobo mau.
E desde aquele dia o lobo passou a conviver mansamente entre os camponeses. Ele entrava e saia das casas, brincava com as crianças e nunca nenhum cachorro sequer latiu pra ele.
E assim ele viveu sendo alimentado pelos camponeses até sua morte. E todos se entristeceram, pois haviam aprendido a amar o velho lobo.
***
Nota: Eu gosto de contar esta estória mostrando as fotos da pequena e linda cidade de Gubbio, onde a lenda é contada como verdadeira. Recordo-me que almocei num restaurante localizado num pequeno castelo onde o garçom fez questão de nos contar a lenda do Lobo de Gubbio, chegando ao exagero de dizer que o tal lobo foi alimentado pelo cozinheiro do senhor daquele castelo onde estávamos.
Minha sobrinha Sofia gosta de ouvir a voz do lobo nos diálogos com Franceso. É claro que esta parte é pura invenção da tia coruja. O lobo fala com sotaque italiano, ou, às vezes, diz frases inteiras nesse idioma, a credibilidade fica maior. Sua irmã Luisa, de apenas três anos e meio, ainda está na fase de misturar as estórias, e sempre pergunta pela Chapeusinho Vermelho.
Francico de Assis foi um servo de Deus. Tudo que ele realizou nesta terra foi usando o nome de Jesus, por que ele sabia que Este nome tem poder. Ele sabia também que toda honra e toda gloria pertecem ao Senhor Deus.
Hull de La Fuente)
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AO LOBO MAU DA ITÁLIA
(Terceiro capítulo)
Republicação dedicada ao poeta Edson Gonçalves Ferreira.
E ditas essa palavras, o lobo abaixou a cauda imensa e as grandes orelhas.
E com um inclinar de cabeça, mostrou que aceitava tudo o que San Francisco havia dito, como a prometer observar suas vontades.
Então San Francisco disse:
_Irmão lobo, porque te agradas em fazer e ter esta atitude de paz, eu te prometo que farei com que as pessoas assumam a tua subsistência.
Enquanto tu viveres, os homens desta terra não te deixarão passar fome. Estou consciente de que foi pela fome que tu fizestes tanto mal.
Mas porque te concedo esta graça, eu quero, irmão lobo, que tu me prometas que não ferirás mais a nenhuma pessoa ou animal. Prometes-me isto?
E o lobo, inclinando a cabeça fez um claro sinal de que prometia. E San Francisco lhe disse:
_Irmão lobo, eu quero que tu faças uma aliança comigo desta promessa, para que eu possa confiar em ti.
Os camponeses viram San Francisco estender a mão ao lobo para o cumprimento daquela aliança, então o lobo levantou a pata direita e a colocou sobre a mão de Francisco. E foi assim firmada a aliança entre o santo e o lobo.
Então Francisco falou:
_Irmão lobo, eu te ordeno no nome de Jesus Cristo, que tu venhas agora comigo, sem duvidar de nada. Vamos assinar esta paz, em nome de Deus.
E o lobo obediente o acompanhou como um cordeiro manso.
A vila e os cidadãos viram maravilhados a entrada de Francisco e do terrível lobo, na praça. Todos vieram ver a grande novidade. Logo toda a terra ficou sabendo do acontecido.
Homens e mulheres, grandes e pequenos, jovens e velhos, venham à praça ver o lobo com Francisco, o monge de Assis! Gritava o arauto.
E San Francisco orou e ouviu as orações do povo. E pediu-lhes que perdoassem o lobo, pois afinal todos pecam neste mundo. E lhes disse:
Continua...
(Hull de La Fuente)
(Terceiro capítulo)
Republicação dedicada ao poeta Edson Gonçalves Ferreira.
E ditas essa palavras, o lobo abaixou a cauda imensa e as grandes orelhas.
E com um inclinar de cabeça, mostrou que aceitava tudo o que San Francisco havia dito, como a prometer observar suas vontades.
Então San Francisco disse:
_Irmão lobo, porque te agradas em fazer e ter esta atitude de paz, eu te prometo que farei com que as pessoas assumam a tua subsistência.
Enquanto tu viveres, os homens desta terra não te deixarão passar fome. Estou consciente de que foi pela fome que tu fizestes tanto mal.
Mas porque te concedo esta graça, eu quero, irmão lobo, que tu me prometas que não ferirás mais a nenhuma pessoa ou animal. Prometes-me isto?
E o lobo, inclinando a cabeça fez um claro sinal de que prometia. E San Francisco lhe disse:
_Irmão lobo, eu quero que tu faças uma aliança comigo desta promessa, para que eu possa confiar em ti.
Os camponeses viram San Francisco estender a mão ao lobo para o cumprimento daquela aliança, então o lobo levantou a pata direita e a colocou sobre a mão de Francisco. E foi assim firmada a aliança entre o santo e o lobo.
Então Francisco falou:
_Irmão lobo, eu te ordeno no nome de Jesus Cristo, que tu venhas agora comigo, sem duvidar de nada. Vamos assinar esta paz, em nome de Deus.
E o lobo obediente o acompanhou como um cordeiro manso.
A vila e os cidadãos viram maravilhados a entrada de Francisco e do terrível lobo, na praça. Todos vieram ver a grande novidade. Logo toda a terra ficou sabendo do acontecido.
Homens e mulheres, grandes e pequenos, jovens e velhos, venham à praça ver o lobo com Francisco, o monge de Assis! Gritava o arauto.
E San Francisco orou e ouviu as orações do povo. E pediu-lhes que perdoassem o lobo, pois afinal todos pecam neste mundo. E lhes disse:
Continua...
(Hull de La Fuente)
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O LOBO MAU DA ITÁLIA
(Segundo capítulo)
Republicação dedicada ao poeta Edson Gonçalves Ferreira
Mas ocorreu que no lugar onde o Francisco foi morar havia um lobo muito mau. Toda a região vivia apavorada com os ataques daquele lobo que matava e feria animais e pessoas. Ninguém mais saia de casa sem levar consigo uma arma, para defender-se da fera.
Ninguém conseguia matar o lobo, ele é que matava as pessoas.
Havia até quem acreditasse que o lobo era o capeta. As pessoas faziam o sinal da cruz quando falavam nele.
Toda a região da Umbria sabia que o Francisco conversava com os animais. Então, uma comissão de moradores do pequeno burgo de nome Gubbio, foi procurá-lo pra pedir sua ajuda.
Compadecido, San Francisco foi procurar o famigerado lobo mau. Alguns camponeses acompanharam de longe o encontro, pois queriam ver o que ia acontecer.
Francisco encontrou o terrível lobo que, ao ver o santo, abriu a boca enorme e rosnou ferozmente.
Francisco ignorou o rosnado e fez o sinal da cruz em direção do lobo.
Depois, se aproximando mais ainda, o chamou pra perto e disse assim:
_Vem até aqui, irmão lobo, eu te ordeno da parte de Jesus Cristo que tu não faças mal nem a mim nem a nenhuma pessoa!
No momento em que Francisco fez o sinal da santa cruz o terrível lobo fechou a bocarra e ficou parado e, em obediência à ordem de Francisco, veio mansamente como um carneiro, sentar-se aos pés de Francisco. O nome santo de Jesus foi a grande arma para amansar aquela fera. Sempre devemos clamar pelo nome daquEle que deu a vida para nos salvar.
E Francisco continuou a lhe falar:
_ Irmão lobo, tu causastes muitos danos nesta região. Tu fizeste grandes malefícios ferindo e matando as criaturas de Deus, sem Sua licença. E não somente matastes e devorastes os animais, mas também matastes os homens feitos à imagem e semelhança de Deus; por isto tu és merecedor da forca como ladrão e homicida;
O povo grita e murmura contra ti e toda esta terra é tua inimiga.
Mas eu quero, irmão lobo, fazer as pazes entre ti e aqueles a quem ofendestes, desde que tu não lhes ofendas mais. E que eles perdoem suas passadas ofensas. Assim sendo, nem os homens, nem seus cachorros te perseguirão mais.
Continua...
(Hull de La Fuente)
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O LOBO MAU DA ITÁLIA
( 1º capítulo)
Republicação dedicada ao poeta Edson Gonçalves Ferreira
Esta é a minha versão da lenda de um lobo italiano, domesticado por Francisco de Assis. Minha tradução fica a desejar, mas eu queria contar esta lenda pra uma menina muito especial.
Esta estória eu contei na semana passada para minha sobrinha Sofia. Na versão que eu fiz pra ela, o lobo também fala, é claro, criança ama fantasia.
Atenta e curiosa, ela nem piscava ouvindo o relato. Só no final é que ela fez-me perguntas, e surpreendeu-me dizendo: “Eu posso comer o irmão ovo de páscoa?” Ao que aproveitei para ensiná-la: O “imão ovo de páscoa” só pode ser comido depois que você comer a “irmã salada de cenoura e alface”.
É nisto que reside meu prazer em contar histórias pra Ela.
x-x-x-x-x
Houve um tempo, muito distante, acredito que tenha sido na Idade Média. Naquele tempo o povo não tomava banho e todo mundo vestia roupas de cor cinza ou marrom, pra esconder o sujo das roupas e do corpo. Dizem até que naquele tempo o arco-íris não aparecia. A vida não tinha cores.
(Agora tente imaginar a cara da Sofia que adora o banho e brincadeiras com água, ouvindo uma coisa assim)
Naquele tempo, um jovem muito rico decidiu que não queria mais ser rico. Então ele convidou seus amigos também riquinhos, pra uma vida de contemplação e oração.
Deus gostou muito da iniciativa daquele jovem, cujo nome era Francesco. Mas como estamos no Brasil, vamos chamá-lo de Francisco.
Francisco realmente foi fiel aos princípios nos quais acreditava. Logo se destacou entre seus colegas de irmandade.
O Francisco tinha uma mania muito engraçada. Ele chamava a tudo e a todos de “irmão” ou “irmã”.
E todos gostavam dele, porque ele tinha uma luz diferente.
Continua...
(Hull de La Fuente)
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Imagem Google. Encontro dos rios Araguaia e Garças
Benedito, o Tradutor de canções
= Um conto em três capítulos =
(Hull De La Fuente)
Capítulo final
- Será que vai chover mesmo?
Benedito que amarrava a boca do saco de farinha, voltou-se pra ela e respondeu:
_”Ó dona! Aqui eu faço de um tudo, mais adivinhá se vai chover eu num posso, eu não sou veterinário...”
_Desculpe! Eu não falei com você. Eu só pensei alto.
_”Desculpe a sinhora, então. As compras ficaram pesadas, vou chamar o Bosta Seca pra levar as caixas pra sinhora, pode ficar tranqüila que ele é de confiança...”
_Por que você chama o seu amigo dessa forma – quis saber a mulher – ele não tem um nome?
_”Nome até que ele tem, mais é que nóis chama ele assim purcauso de que ele tem os dentes podres...”
_Já entendi. Não precisa dizer mais nada. Você colocou o fermento fleischman no saco?
Benedito ficou sem entender o que podia ser aquilo que a mulher tinha pedido e se saiu assim:
_” Isso aí eu num sei. Isso aí deve de ser só com o seu Francisco que é o dono da padaria e é amigo do prefeito. Tem coisa que eu posso saber e vender. Outras coisas, só ele que é o dono é que pode pra não dar prejuízo...”
Em seguida gritou a todo pulmão para o interior da padaria:
_Seu Franciscooooooooo! A mulher do doutor que anda pelado mostrando o pinto na rua, ta querendo negociar com sinhoooor!!!!!!!
Com o rosto coberto de rubor, Ana saiu às pressas da padaria e nem olhou para trás.
Benedito não falou nenhum absurdo. O marido russo de Ana, realmente tinha o hábito de andar nu pela casa e pelos arredores. Não devia ser fácil pra ele, viver sob 45 graus, dia e noite.
Benedito não deu importância à saída da freguesa e recomeçou a cantar:
_”Come prima, più di prima t’amerò... Le tue mani nelle mie...lá, lá, lá...”
Benedito, o Tradutor de canções
= Um conto em três capítulos =
(Hull De La Fuente)
Capítulo final
- Será que vai chover mesmo?
Benedito que amarrava a boca do saco de farinha, voltou-se pra ela e respondeu:
_”Ó dona! Aqui eu faço de um tudo, mais adivinhá se vai chover eu num posso, eu não sou veterinário...”
_Desculpe! Eu não falei com você. Eu só pensei alto.
_”Desculpe a sinhora, então. As compras ficaram pesadas, vou chamar o Bosta Seca pra levar as caixas pra sinhora, pode ficar tranqüila que ele é de confiança...”
_Por que você chama o seu amigo dessa forma – quis saber a mulher – ele não tem um nome?
_”Nome até que ele tem, mais é que nóis chama ele assim purcauso de que ele tem os dentes podres...”
_Já entendi. Não precisa dizer mais nada. Você colocou o fermento fleischman no saco?
Benedito ficou sem entender o que podia ser aquilo que a mulher tinha pedido e se saiu assim:
_” Isso aí eu num sei. Isso aí deve de ser só com o seu Francisco que é o dono da padaria e é amigo do prefeito. Tem coisa que eu posso saber e vender. Outras coisas, só ele que é o dono é que pode pra não dar prejuízo...”
Em seguida gritou a todo pulmão para o interior da padaria:
_Seu Franciscooooooooo! A mulher do doutor que anda pelado mostrando o pinto na rua, ta querendo negociar com sinhoooor!!!!!!!
Com o rosto coberto de rubor, Ana saiu às pressas da padaria e nem olhou para trás.
Benedito não falou nenhum absurdo. O marido russo de Ana, realmente tinha o hábito de andar nu pela casa e pelos arredores. Não devia ser fácil pra ele, viver sob 45 graus, dia e noite.
Benedito não deu importância à saída da freguesa e recomeçou a cantar:
_”Come prima, più di prima t’amerò... Le tue mani nelle mie...lá, lá, lá...”
Hull de La Fuente
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Imagem Google. Encontro dos Rios Araguaia e Garças.
Benedito, o tradutor de canções Um conto em três capítulos
(Hull de La Fuente)
Capítulo II
Com tão espetacular herança genética, Benedito realmente era genial. Cantava e pronunciava bem as palavras por que tinha bons ouvidos, mas não entendia nada do que dizia. Contudo, para se mostrar aos amigos, traduzia conforme os sons das palavras.
Assim foi, que um dia a mulher do Dr. Sergei Tarapanof, o médico russo, entrou na padaria para fazer compras e encontrou Benedito cantando uma canção italiana. Surpresa com a perfeita dicção e segurança com que ele pronunciava as palavras, ela ficou ouvindo e só lhe falou quando o guri se deu conta de que era observado. Ana entregou-lhe a lista das compras e perguntou:
_Quem ensinou você a falar italiano?
_”O quê? Eu tô só cantando uma cantiga das estranjas... num tem nada de falar isso aí que a sinhora disse não.”
_Mas como? Você estava cantando a canção “Come prima”...
_”Sim! Isso eu tava. Era essa cantiga aí que eu tava cantando. A cantiga do canibal que comeu a prima dele. O disinfiliz começou pela mão e depois foi comendo o resto, tudim, tudim e ainda fala tudo errado, diz que vai dar a vida pra ela. È uma cantiga triste, dona! “
_quem lhe falou que a história é assim?
_”A sinhora num escutou no rádio? È disso que a cantiga tá falando. Eu sei tudim que qui esses gringo fala... Eles são tudo ruim da cabeça, purcauso das guerra que eles faiz.”
Ana ficou ouvindo pasma, a explicação do moleque. Será que realmente ele não sabia o que estava cantando? Mas a pronúncia era como a de Modugno, perfeita. Ele só podia estar brincando, mas enfim, os moleques de Aragarças eram todos iguais. Não tinham noção de limite, diziam o que lhes vinha à cabeça.
Benedito separava rápido, os artigos da lista. Ana continuou observando os movimentos dele. Naquele momento uma trovoada forte, seguida de raios cortando o céu, se fez ouvir. A tarde quente seria aliviada se a chuva caísse. Ana olhou pra fora, em direção da serra de Barra do Garças e disse quase num sussurro:
continua...
*** Olá, amigos!
Hoje estou publicando, a pedido de Hull
- enquanto ela estiver impossibilitada -
o segundo capítulo deste conto, sensacional!
Obrigada a todos que têm vindo prestigiá-la,
ainda que ausente! Beijos com carinho***Mila***
Benedito, o tradutor de canções Um conto em três capítulos
(Hull de La Fuente)
Capítulo II
Com tão espetacular herança genética, Benedito realmente era genial. Cantava e pronunciava bem as palavras por que tinha bons ouvidos, mas não entendia nada do que dizia. Contudo, para se mostrar aos amigos, traduzia conforme os sons das palavras.
Assim foi, que um dia a mulher do Dr. Sergei Tarapanof, o médico russo, entrou na padaria para fazer compras e encontrou Benedito cantando uma canção italiana. Surpresa com a perfeita dicção e segurança com que ele pronunciava as palavras, ela ficou ouvindo e só lhe falou quando o guri se deu conta de que era observado. Ana entregou-lhe a lista das compras e perguntou:
_Quem ensinou você a falar italiano?
_”O quê? Eu tô só cantando uma cantiga das estranjas... num tem nada de falar isso aí que a sinhora disse não.”
_Mas como? Você estava cantando a canção “Come prima”...
_”Sim! Isso eu tava. Era essa cantiga aí que eu tava cantando. A cantiga do canibal que comeu a prima dele. O disinfiliz começou pela mão e depois foi comendo o resto, tudim, tudim e ainda fala tudo errado, diz que vai dar a vida pra ela. È uma cantiga triste, dona! “
_quem lhe falou que a história é assim?
_”A sinhora num escutou no rádio? È disso que a cantiga tá falando. Eu sei tudim que qui esses gringo fala... Eles são tudo ruim da cabeça, purcauso das guerra que eles faiz.”
Ana ficou ouvindo pasma, a explicação do moleque. Será que realmente ele não sabia o que estava cantando? Mas a pronúncia era como a de Modugno, perfeita. Ele só podia estar brincando, mas enfim, os moleques de Aragarças eram todos iguais. Não tinham noção de limite, diziam o que lhes vinha à cabeça.
Benedito separava rápido, os artigos da lista. Ana continuou observando os movimentos dele. Naquele momento uma trovoada forte, seguida de raios cortando o céu, se fez ouvir. A tarde quente seria aliviada se a chuva caísse. Ana olhou pra fora, em direção da serra de Barra do Garças e disse quase num sussurro:
continua...
*** Olá, amigos!
Hoje estou publicando, a pedido de Hull
- enquanto ela estiver impossibilitada -
o segundo capítulo deste conto, sensacional!
Obrigada a todos que têm vindo prestigiá-la,
ainda que ausente! Beijos com carinho***Mila***
Hull de La Fuente
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Imagem Google: Aragarças. Encontro dos rios Araguaia e Garças.
Benedito, tradutor de canções = Um conto em três capítulos =
(Hull de La Fuente)
Capítulo I
Ele era o ajudante da padaria do meu tio Francisco. Ouvidos aguçados. Aprendia tudo a sua maneira. Ele e meu tio Francisco combinavam muito bem. Meu tio, homem simples, não completou nem o primário, o que não impediu que tivesse sucesso na profissão. Ficou rico fazendo pão e comprando e revendendo diamantes.
Mas a personagem desta história é Benedito, o guri simples que veio da Bahia trazido por seu tio, para Aragarças, em terras goianas. Pra falar a verdade, aquele Goiás ali é mais Mato Grosso do que território goiano. Em Goiás Benedito foi entregue à guarda de outro tio que o maltratava muito. Assim foi que ele um dia, após mais uma surra, refugiou-se nos fundos da padaria do tio Francisco. Devia beirar os doze anos de idade, parecia um índio, mas era baiano. Tem gente que diz que na Bahia já teve índios, mas não se conhece nenhuma tribo por lá, só na história do Brasil e no carnaval eles aparecem.
Mas voltando ao Benedito, ele pouco frequentou o grupo escolar. Seu tempo era gasto em brincadeiras com os amigos Curicaca, Três Orelhas, Vesgo, Bosta Seca e Divino, o mais pervertido de todos.
Benedito, no pouco tempo que conviveu com o tio baiano, aprendeu um pouco de música e as poucas letras que conhecia do grupo escolar. Possuía uma linda caligrafia, era um pecado que não tivesse estudado. Por causa da caligrafia Francisco confiava a ele o atendimento no balcão da padaria. E era ali que ele ouvia as canções no velho e grande rádio de pilhas. Ele era afinado e tinha bom ouvido, é claro, pra ser afinado é necessário ter bons ouvidos.
Benedito aprendia as canções em qualquer idioma. Tudo que ele ouvia uma vez, na segunda vez já cantava. Era inexplicável o fenômeno. Como podia cantar em alemão, inglês, espanhol, francês e italiano se não sabia nenhum daqueles idiomas?
Seus dois fiéis amigos e escudeiros, Bosta Seca e Divino tinham uma explicação para o fenômeno: quando perguntavam a eles por que Benedito cantava em outros idiomas e eles não, os dois tinham a resposta na ponta da língua:
_”O Benedito é alma reincarnada dum trovadô pai-d’egua, que vei dos estranjas, ele morreu de doença venérea, mas alegrô os cabaré das puta, antes de morrê ele jurô pras puta que voltava..."
Continua...
Nota de Milla: Amigos, estou aqui, mais uma vez,
publicando os textos de nossa
querida Hull. Ela ainda encontra-se
impossibilitada de vir.
Pede que eu abrace a agradeça a
cada um de vocês, pelo carinho.
Beijos...
Benedito, tradutor de canções = Um conto em três capítulos =
(Hull de La Fuente)
Capítulo I
Ele era o ajudante da padaria do meu tio Francisco. Ouvidos aguçados. Aprendia tudo a sua maneira. Ele e meu tio Francisco combinavam muito bem. Meu tio, homem simples, não completou nem o primário, o que não impediu que tivesse sucesso na profissão. Ficou rico fazendo pão e comprando e revendendo diamantes.
Mas a personagem desta história é Benedito, o guri simples que veio da Bahia trazido por seu tio, para Aragarças, em terras goianas. Pra falar a verdade, aquele Goiás ali é mais Mato Grosso do que território goiano. Em Goiás Benedito foi entregue à guarda de outro tio que o maltratava muito. Assim foi que ele um dia, após mais uma surra, refugiou-se nos fundos da padaria do tio Francisco. Devia beirar os doze anos de idade, parecia um índio, mas era baiano. Tem gente que diz que na Bahia já teve índios, mas não se conhece nenhuma tribo por lá, só na história do Brasil e no carnaval eles aparecem.
Mas voltando ao Benedito, ele pouco frequentou o grupo escolar. Seu tempo era gasto em brincadeiras com os amigos Curicaca, Três Orelhas, Vesgo, Bosta Seca e Divino, o mais pervertido de todos.
Benedito, no pouco tempo que conviveu com o tio baiano, aprendeu um pouco de música e as poucas letras que conhecia do grupo escolar. Possuía uma linda caligrafia, era um pecado que não tivesse estudado. Por causa da caligrafia Francisco confiava a ele o atendimento no balcão da padaria. E era ali que ele ouvia as canções no velho e grande rádio de pilhas. Ele era afinado e tinha bom ouvido, é claro, pra ser afinado é necessário ter bons ouvidos.
Benedito aprendia as canções em qualquer idioma. Tudo que ele ouvia uma vez, na segunda vez já cantava. Era inexplicável o fenômeno. Como podia cantar em alemão, inglês, espanhol, francês e italiano se não sabia nenhum daqueles idiomas?
Seus dois fiéis amigos e escudeiros, Bosta Seca e Divino tinham uma explicação para o fenômeno: quando perguntavam a eles por que Benedito cantava em outros idiomas e eles não, os dois tinham a resposta na ponta da língua:
_”O Benedito é alma reincarnada dum trovadô pai-d’egua, que vei dos estranjas, ele morreu de doença venérea, mas alegrô os cabaré das puta, antes de morrê ele jurô pras puta que voltava..."
Continua...
Nota de Milla: Amigos, estou aqui, mais uma vez,
publicando os textos de nossa
querida Hull. Ela ainda encontra-se
impossibilitada de vir.
Pede que eu abrace a agradeça a
cada um de vocês, pelo carinho.
Beijos...
Hull de La Fuente
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O PROTESTO DO ANARQUISTA
(Hull de La Fuente)
Trinnnnn!!!!
_Alô!
_Tio Pepe! Tudo bem?
_Tu sabes bem, que não!
_O que houve? Por que o senhor está zangado?
_Ainda perguntas? Quantas vezes eu te pedi pra parar de me chamar de “desbocado”?
_Mas tio! O senhor não controla sua língua e ...
_Que tio que nada! Vou te deserdar! Quantas vezes eu vou ter de te repetir que sou “ANARQUISTA”, e não “desbocado”?
_Tá bom, tio! Não vou mais chama-lo de “desbocado”.
_É muito bom que tu faças isto, ou vou te deserdar! Está entendido? Ah”! E tem mais! Avisa lá pra teus leitores que doravante eu serei apenas “tio Pepe”!
_Tio! O senhor é algo mais que um simples “tio Pepe”! Eu preciso de uma figura de linguagem...
Mas eu não quero essa antonomásia! Afinal eu sou um sujeito de inúmeras qualidades , só tu que não vês...
Dito isto, tio Pepe desligou e me deixou com o telefone colado à orelha, pensativa e preocupada, pois meu tio é a pessoa mais adorável, louca, romântica, doce e sarcástica que eu conheço. Ele é uma mistura encantadora de qualidades e defeitos. Ele diz o que quer e na hora que quer, não é nem um pouco organizado, vive duro, mora de favor na casa da irmã. Em suma, não tem onde cair morto. Mas ameaçou deserdar-me, e isto me apavora. Eu queria tanto herdar sua mente brilhante, sua visão do mundo, sua alma linda e engraçada. Ele prometeu deixar-me tudo isto, por escrito.
Tio Pepe é a ovelha negra mais branca que existe. É indefeso como uma criança, mas adora defender os outros, bem, pelo menos ele tenta. Agora não quer que eu o chame de “desbocado”, pensando bem, ele não diz palavrões, mas diz coisas picantes, se bem que com muita graça.
Ah! Tio Pepe! Como vou chamá-lo agora? Poeta anarquista? Não soa bem, aliás, poesia e anarquia até que rima, mas não é isto o que interessa. Tio, o senhor me deixou em dificuldades. Enquanto isso vou continuar publicando suas tiradas, depositando os créditos ao querido tio Pepe, o anarquista, vale?
(Este artigo foi publicado na minha página na Usina de Letras, em setembro de 2006. As pessoas escreviam querendo saber quem era o Tio Pepe, então fiz a apresentação dele aos leitores através desta nossa conversa ao telefone).
(Hull de La Fuente)
Trinnnnn!!!!
_Alô!
_Tio Pepe! Tudo bem?
_Tu sabes bem, que não!
_O que houve? Por que o senhor está zangado?
_Ainda perguntas? Quantas vezes eu te pedi pra parar de me chamar de “desbocado”?
_Mas tio! O senhor não controla sua língua e ...
_Que tio que nada! Vou te deserdar! Quantas vezes eu vou ter de te repetir que sou “ANARQUISTA”, e não “desbocado”?
_Tá bom, tio! Não vou mais chama-lo de “desbocado”.
_É muito bom que tu faças isto, ou vou te deserdar! Está entendido? Ah”! E tem mais! Avisa lá pra teus leitores que doravante eu serei apenas “tio Pepe”!
_Tio! O senhor é algo mais que um simples “tio Pepe”! Eu preciso de uma figura de linguagem...
Mas eu não quero essa antonomásia! Afinal eu sou um sujeito de inúmeras qualidades , só tu que não vês...
Dito isto, tio Pepe desligou e me deixou com o telefone colado à orelha, pensativa e preocupada, pois meu tio é a pessoa mais adorável, louca, romântica, doce e sarcástica que eu conheço. Ele é uma mistura encantadora de qualidades e defeitos. Ele diz o que quer e na hora que quer, não é nem um pouco organizado, vive duro, mora de favor na casa da irmã. Em suma, não tem onde cair morto. Mas ameaçou deserdar-me, e isto me apavora. Eu queria tanto herdar sua mente brilhante, sua visão do mundo, sua alma linda e engraçada. Ele prometeu deixar-me tudo isto, por escrito.
Tio Pepe é a ovelha negra mais branca que existe. É indefeso como uma criança, mas adora defender os outros, bem, pelo menos ele tenta. Agora não quer que eu o chame de “desbocado”, pensando bem, ele não diz palavrões, mas diz coisas picantes, se bem que com muita graça.
Ah! Tio Pepe! Como vou chamá-lo agora? Poeta anarquista? Não soa bem, aliás, poesia e anarquia até que rima, mas não é isto o que interessa. Tio, o senhor me deixou em dificuldades. Enquanto isso vou continuar publicando suas tiradas, depositando os créditos ao querido tio Pepe, o anarquista, vale?
(Este artigo foi publicado na minha página na Usina de Letras, em setembro de 2006. As pessoas escreviam querendo saber quem era o Tio Pepe, então fiz a apresentação dele aos leitores através desta nossa conversa ao telefone).
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Natalia e o amor
A linda moça Chechena
Da pele branca de flor
Das loiras e longas melenas
Sonhava um grande amor.
Desfilava em passarelas
E trabalhava em Moscou,
Entre outras modelos belas
Boris um dia a encontrou.
Praça Vermelha com neve,
Sob a luz dos holofotes,
Natalia pisava leve
Vestindo belos capotes.
Seus olhos se encontraram
Sob a neve que caia,
As balalaicas tocavam
No ambiente de magia...
Quando o desfile termina
Boris segue sua amada,
Seu olhar terno o fulmina
Do alto lá da escada.
O final dessa história
Você pode imaginar
Os dois viveram a glória,
As delicias de amar.
Ouvia-se na distância,
Alguém cantando “Olhos negros”,
As balalaicas em consonância
Do amor revelou segredos.
Hull de La Fuente
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O SONHO DE VANI
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
Hull de La Fuente)
Capítulo VII - final
parentes foram informados da gravidade do seu estado. O Coronel Ivan foi o primeiro a chegar. Veio direto da Academia de Tênis, “fantasiado” com roupas de tenista, pois todos sabiam que ele não jogava tênis. Vinte dias antes, a garota por quem ele se apaixonara, após um mês na mansão, deu-lhe um sonífero e, junto com um cúmplice, roubou sua casa levando os objetos mais valiosos.
No início, o ocorrido não o desanimou. Com certeza ele ainda encontraria uma bela mocinha honesta. Mas agora, olhando a filha no leito de morte, parecia ter tomado consciência de que o amor é belo, de que o amor faz sonhar e, além de roubar, também pode matar. Sua dor era visível. O pobre “coronel Ridículo” chorava como um menino sem seu brinquedo predileto.
Marina, abraçada ao cabeleireiro Marquinhos, chorava desconsolada. Isabel despertou do sono forçado de mais de seis horas e correu para o quarto da filha. A presença de toda aquela gente na enfermaria foi a confirmação de que Vani estava morrendo. A agonia da moça terminou às três horas da madrugada.
No funeral, os colegas da faculdade e da igreja a homenagearam com cânticos, poesias e flores.
A professora Isabel, diante da impossibilidade de vingar a morte da filha, abriu uma página na Internet, onde relata a história de Vani. No site, aparecem centenas de fotos do casamento e da primeira vez que o espanhol e o pai estiveram no Brasil. As fotos dos dois criminosos foram ampliadas para que todos possam reconhecê-los.
Luciano pediu transferência para a representação da empresa em São Paulo. E nas noites, pode-se encontrá-lo nas salas de bate-papo a procura de namoradas, de novas vítimas.
FIM
Observação: esta é uma história real. Infelizmente a justiça protege os criminosos, eu não pude nem mesmo dizer sua verdadeira nacionalidade. Mas posso denunciar que ele voltou para Brasília, casou com outra moça e ainda teve o displante de enviar convite para a ex-sogra. O "Direito" o protege.
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
Hull de La Fuente)
Capítulo VII - final
parentes foram informados da gravidade do seu estado. O Coronel Ivan foi o primeiro a chegar. Veio direto da Academia de Tênis, “fantasiado” com roupas de tenista, pois todos sabiam que ele não jogava tênis. Vinte dias antes, a garota por quem ele se apaixonara, após um mês na mansão, deu-lhe um sonífero e, junto com um cúmplice, roubou sua casa levando os objetos mais valiosos.
No início, o ocorrido não o desanimou. Com certeza ele ainda encontraria uma bela mocinha honesta. Mas agora, olhando a filha no leito de morte, parecia ter tomado consciência de que o amor é belo, de que o amor faz sonhar e, além de roubar, também pode matar. Sua dor era visível. O pobre “coronel Ridículo” chorava como um menino sem seu brinquedo predileto.
Marina, abraçada ao cabeleireiro Marquinhos, chorava desconsolada. Isabel despertou do sono forçado de mais de seis horas e correu para o quarto da filha. A presença de toda aquela gente na enfermaria foi a confirmação de que Vani estava morrendo. A agonia da moça terminou às três horas da madrugada.
No funeral, os colegas da faculdade e da igreja a homenagearam com cânticos, poesias e flores.
A professora Isabel, diante da impossibilidade de vingar a morte da filha, abriu uma página na Internet, onde relata a história de Vani. No site, aparecem centenas de fotos do casamento e da primeira vez que o espanhol e o pai estiveram no Brasil. As fotos dos dois criminosos foram ampliadas para que todos possam reconhecê-los.
Luciano pediu transferência para a representação da empresa em São Paulo. E nas noites, pode-se encontrá-lo nas salas de bate-papo a procura de namoradas, de novas vítimas.
FIM
Observação: esta é uma história real. Infelizmente a justiça protege os criminosos, eu não pude nem mesmo dizer sua verdadeira nacionalidade. Mas posso denunciar que ele voltou para Brasília, casou com outra moça e ainda teve o displante de enviar convite para a ex-sogra. O "Direito" o protege.
Hull de La Fuente
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O SONHO DE VANI
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo VI
pneumonia dupla. Lembrou-se ainda da noite de núpcias quando o marido a penetrara, rompendo o hímen. Luciano não conseguiu esconder sua felicidade ao ver o sangue nos lençóis...
Chorando, Vani contou tudo aos médicos. Isabel abraçou-se à moça e chorou com ela.
Naquela tarde, quando Luciano foi vê-la, reunindo toda a força que podia, Vani perguntou-lhe por que praticara tamanha crueldade com ela. Um homem totalmente diferente daquele com quem se casara, revelou-se ali e respondeu friamente:
– Há dez anos, uma jovem bonita, assim como você foi também, contaminou-me. Foi por isto! – respondeu cruelmente.
– Luciano, eu amei você tanto, desde o primeiro dia. Eu jamais faria uma maldade dessas com alguém. Você não teve piedade de mim. Agora eu compreendo a sua felicidade ao ver o meu sangue nos lençóis. Como pôde esconder-me isto? Você nunca ficou doente?
– Eu já estive doente, no início, “meu bem”. – disse ironicamente – Lembra das “vitaminas” que eu tomo todos os dias? São os coquetéis de AZT dentro dos frascos de vitaminas. A vida é assim mesmo, “princesa”. Sinto por você. Todo sonho tem um preço e o preço do seu sonho é a morte.
Lágrimas silenciosas desceram pela face magra e sem cor da pobre criatura que jazia no leito. Isabel, como uma leoa ferida, pulou no pescoço do genro. Seu peso fez os dois caírem sobre a mesinha de cabeceira, arrastando-a com eles ao chão frio da enfermaria. O barulho despertou a atenção do pessoal da enfermagem. Logo os seguranças chegaram e em vão tentavam levantar o corpo obeso da mulher, que esmurrava e arranhava o rosto de Luciano. As enfermeiras e auxiliares, ao verem o sangue começando a brotar dos arranhões no rosto dele, afastaram-se apavoradas. No desespero, ela berrava:
– Assassino! Maldito assassino! Como pode fazer isto com uma jovem inocente? O desgraçado do seu pai com certeza sabe de tudo. Vou denunciá-los a policia do mundo inteiro. Vocês não farão mais vítimas. Seu desgraçado!
– Saia de cima de mim, sua bruxa! – esgoelava o canalha, que mal podia mover-se, sob o peso dela.
Finalmente a mulher foi dominada por dois enfermeiros que a levaram dali. Os seguranças manietaram Luciano e o expulsaram para fora do hospital. O rapaz esbravejava dizendo que iria processar todos eles. Os médicos deram um calmante pra Isabel, fazendo-a adormecer. Suas longas unhas foram lavadas e cortadas, seus dedos não mostravam ferimento algum. Ainda assim, os médicos iriam recomendar a ela que fizesse exames, por certo período, para tirar qualquer dúvida.
Após a saída de Luciano, Vani piorou. Os médicos fizeram de tudo para que ela recuperasse a vontade de viver, mas foi tudo inútil. Logo ela entrou em coma. Os
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo VI
pneumonia dupla. Lembrou-se ainda da noite de núpcias quando o marido a penetrara, rompendo o hímen. Luciano não conseguiu esconder sua felicidade ao ver o sangue nos lençóis...
Chorando, Vani contou tudo aos médicos. Isabel abraçou-se à moça e chorou com ela.
Naquela tarde, quando Luciano foi vê-la, reunindo toda a força que podia, Vani perguntou-lhe por que praticara tamanha crueldade com ela. Um homem totalmente diferente daquele com quem se casara, revelou-se ali e respondeu friamente:
– Há dez anos, uma jovem bonita, assim como você foi também, contaminou-me. Foi por isto! – respondeu cruelmente.
– Luciano, eu amei você tanto, desde o primeiro dia. Eu jamais faria uma maldade dessas com alguém. Você não teve piedade de mim. Agora eu compreendo a sua felicidade ao ver o meu sangue nos lençóis. Como pôde esconder-me isto? Você nunca ficou doente?
– Eu já estive doente, no início, “meu bem”. – disse ironicamente – Lembra das “vitaminas” que eu tomo todos os dias? São os coquetéis de AZT dentro dos frascos de vitaminas. A vida é assim mesmo, “princesa”. Sinto por você. Todo sonho tem um preço e o preço do seu sonho é a morte.
Lágrimas silenciosas desceram pela face magra e sem cor da pobre criatura que jazia no leito. Isabel, como uma leoa ferida, pulou no pescoço do genro. Seu peso fez os dois caírem sobre a mesinha de cabeceira, arrastando-a com eles ao chão frio da enfermaria. O barulho despertou a atenção do pessoal da enfermagem. Logo os seguranças chegaram e em vão tentavam levantar o corpo obeso da mulher, que esmurrava e arranhava o rosto de Luciano. As enfermeiras e auxiliares, ao verem o sangue começando a brotar dos arranhões no rosto dele, afastaram-se apavoradas. No desespero, ela berrava:
– Assassino! Maldito assassino! Como pode fazer isto com uma jovem inocente? O desgraçado do seu pai com certeza sabe de tudo. Vou denunciá-los a policia do mundo inteiro. Vocês não farão mais vítimas. Seu desgraçado!
– Saia de cima de mim, sua bruxa! – esgoelava o canalha, que mal podia mover-se, sob o peso dela.
Finalmente a mulher foi dominada por dois enfermeiros que a levaram dali. Os seguranças manietaram Luciano e o expulsaram para fora do hospital. O rapaz esbravejava dizendo que iria processar todos eles. Os médicos deram um calmante pra Isabel, fazendo-a adormecer. Suas longas unhas foram lavadas e cortadas, seus dedos não mostravam ferimento algum. Ainda assim, os médicos iriam recomendar a ela que fizesse exames, por certo período, para tirar qualquer dúvida.
Após a saída de Luciano, Vani piorou. Os médicos fizeram de tudo para que ela recuperasse a vontade de viver, mas foi tudo inútil. Logo ela entrou em coma. Os
Hull de La Fuente
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O SONHO DE VANI
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo V
tocaram a marcha nupcial. Vani, vestida como uma princesa, braço dado com o pai, foi conduzida ao púlpito montado no jardim. Luciano a esperava elegante e ansioso, na companhia do pai. Seu filho Arturo, à frente da noiva, portava as alianças. O Pastor fez uma longa pregação e hinos foram entoados pelo coral da igreja. Finalmente, a união foi abençoada. A festa foi perfeita.
Os noivos passaram a primeira noite no hotel da Academia de Tênis e na manhã seguinte viajaram para a Espanha. Luciano era o próprio príncipe encantado. Vani conheceu lugares maravilhosos, viveu o amor intensamente. Às vezes duvidava de tanta felicidade e pedia ao marido que a beliscasse, pois tinha medo de estar sonhando. Ele ria e a tomava nos braços, cheio de amor.
Um mês depois estavam de volta a Brasília. Arturo e o avô espanhol haviam ficado no apartamento que o casal deixara montado. O pequeno tomou-se de amores pela nova casa, chamava Vani de “mamãe”, o que a deixava radiante.
O sogro retornou pra seus negócios na Europa. Vani prosseguiu os estudos e formou-se em agosto, como era previsto. A vida seguia perfeita para eles.Vani já pensava em montar um escritório de advocacia, o Mercosul era a sua meta.
Em setembro, Luciano foi aos Estados Unidos, a serviço. Na volta encontrou sua amada não muito bem disposta. Mesmo assim, amaram-se loucamente durante a tarde e depois que voltaram do jantar. Na manhã seguinte Vani acordou molhada de suor e ardendo de febre. Luciano telefonou para a sogra e avisou que estava levando a mulher para o hospital porque ela não estava bem. Isabel foi ao encontro deles. O primeiro diagnóstico acusou pneumonia dupla. Vani ficou internada, mas os médicos não entendiam porque a moça só piorava. Luciano ia vê-la todas as manhãs, antes do trabalho. Embora muito fraca, ela se preocupava por ele e por Arturo.
– Como você está meu amor? E o nosso filhinho? Ele está indo à creche? Você está cuidando bem dele?
– Não se preocupe querida. Está tudo bem comigo e com o “nosso” filho. – respondia tentando tranqüilizá-la. – Você deve apenas pensar no seu restabelecimento.
Dez dias depois da internação, a pele perfeita de Vani amanheceu coberta de manchas. No dia seguinte as manchas se abriram em pústulas. A equipe médica realizou novos exames. O diagnóstico não deixou dúvidas: Vani estava com AIDS. Isabel e Marina, que já não mais moravam na bela mansão do Lago Sul e se revezavam à cabeceira da doente, foram as primeiras a tomar conhecimento da desgraça.
Os médicos perguntaram à moça se ela havia compartilhado seringa com alguém, se havia recebido transfusão de sangue. Vani desesperou-se ao ouvir as perguntas. Lembrou-se de quando estava na casa de Luciano, na Espanha. A velha empregada lhe contara que a primeira mulher dele havia morrido, repentinamente, de
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo V
tocaram a marcha nupcial. Vani, vestida como uma princesa, braço dado com o pai, foi conduzida ao púlpito montado no jardim. Luciano a esperava elegante e ansioso, na companhia do pai. Seu filho Arturo, à frente da noiva, portava as alianças. O Pastor fez uma longa pregação e hinos foram entoados pelo coral da igreja. Finalmente, a união foi abençoada. A festa foi perfeita.
Os noivos passaram a primeira noite no hotel da Academia de Tênis e na manhã seguinte viajaram para a Espanha. Luciano era o próprio príncipe encantado. Vani conheceu lugares maravilhosos, viveu o amor intensamente. Às vezes duvidava de tanta felicidade e pedia ao marido que a beliscasse, pois tinha medo de estar sonhando. Ele ria e a tomava nos braços, cheio de amor.
Um mês depois estavam de volta a Brasília. Arturo e o avô espanhol haviam ficado no apartamento que o casal deixara montado. O pequeno tomou-se de amores pela nova casa, chamava Vani de “mamãe”, o que a deixava radiante.
O sogro retornou pra seus negócios na Europa. Vani prosseguiu os estudos e formou-se em agosto, como era previsto. A vida seguia perfeita para eles.Vani já pensava em montar um escritório de advocacia, o Mercosul era a sua meta.
Em setembro, Luciano foi aos Estados Unidos, a serviço. Na volta encontrou sua amada não muito bem disposta. Mesmo assim, amaram-se loucamente durante a tarde e depois que voltaram do jantar. Na manhã seguinte Vani acordou molhada de suor e ardendo de febre. Luciano telefonou para a sogra e avisou que estava levando a mulher para o hospital porque ela não estava bem. Isabel foi ao encontro deles. O primeiro diagnóstico acusou pneumonia dupla. Vani ficou internada, mas os médicos não entendiam porque a moça só piorava. Luciano ia vê-la todas as manhãs, antes do trabalho. Embora muito fraca, ela se preocupava por ele e por Arturo.
– Como você está meu amor? E o nosso filhinho? Ele está indo à creche? Você está cuidando bem dele?
– Não se preocupe querida. Está tudo bem comigo e com o “nosso” filho. – respondia tentando tranqüilizá-la. – Você deve apenas pensar no seu restabelecimento.
Dez dias depois da internação, a pele perfeita de Vani amanheceu coberta de manchas. No dia seguinte as manchas se abriram em pústulas. A equipe médica realizou novos exames. O diagnóstico não deixou dúvidas: Vani estava com AIDS. Isabel e Marina, que já não mais moravam na bela mansão do Lago Sul e se revezavam à cabeceira da doente, foram as primeiras a tomar conhecimento da desgraça.
Os médicos perguntaram à moça se ela havia compartilhado seringa com alguém, se havia recebido transfusão de sangue. Vani desesperou-se ao ouvir as perguntas. Lembrou-se de quando estava na casa de Luciano, na Espanha. A velha empregada lhe contara que a primeira mulher dele havia morrido, repentinamente, de
Hull de La Fuente
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O SONHO DE VANI
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo IV
conversa, entretanto, prosseguiu ardente e entrou pela madrugada. E assim o namoro continuou, por uma, duas, três semanas, um mês. No final do segundo mês, ele anunciou que viria ao Brasil para encontrá-la.
E bem no auge da crise entre os pais, Vani anunciou-lhes que o “noivo” viria da Espanha, e que queria casar-se o mais rápido possível.
– Que noivo é esse? – quis saber Isabel – Eu trabalho naquela faculdade há anos, não conheço nenhum espanhol que estude lá.
– Ele não é da faculdade, mãe. Ele mora em Madrid, nunca veio ao Brasil. É viúvo e tem um filho de quatro anos... Nós estamos apaixonados.
– Presta atenção, minha filha! Você não está querendo me dizer que conheceu esse tal “noivo” pela Internet, está?
– Foi pela Internet, sim! O que tem de mal nisso? Ele vai ligar hoje, pra senhora e para o papai. O nome dele é Luciano Arroyo e vai chegar na quarta-feira que vem. O senhor Fabio, o pai dele também vem, para fazer o pedido, como é o costume deles. – disse calmamente, para desespero da mãe.
Naquela noite, como havia combinado com Vani, Luciano ligou. Os pais da moça ficaram encantados com a simpatia do espanhol. Por um pouco esqueceram as diferenças e trocaram impressões sobre o que estava acontecendo com a filha caçula. Assim, tudo foi preparado para a vinda do rapaz e do pai dele.
Vani e os pais foram esperar os hóspedes no aeroporto de Brasília. A moça fez questão de ir no próprio carro. Não queria perder nem um segundo da companhia do amado. Ao mesmo tempo, morria de medo de decepcionar-se ou, pior, que o rapaz ficasse decepcionado ao vê-la pessoalmente. Mas nada disto ocorreu. Os dois correram para os braços um do outro, deixando de lado os pais. O beijo tão esperado, finalmente aconteceu.
Luciano e o pai foram, por uma semana, hóspedes na mansão da família Noronha. Isabel, para assegurar-se de que a filha permaneceria virgem até o casamento, à noite, obrigava-a a dormir no quarto de sua irmã Marina.
Tudo foi acertado e o casamento foi marcado para o mês de abril. Luciano procurou a filial de uma empresa espanhola, em Brasília, onde conseguiu um ótimo emprego. Começaria o trabalho em maio, após o retorno da lua de mel. O rapaz e o pai retornaram à Espanha. O romance prosseguiu mais ardente do que nunca, via Internet e telefone.
Agora, diante do espelho, preparando-se para o casamento, Vani sentia o corpo quente, tinha a sensação que mãos invisíveis a acariciavam ousadamente. Ela sabia que na ala dos hóspedes, o seu amor espanhol experimentava o mesmo desejo e isto a excitava.
Os convidados lotavam todos os espaços do jardim e do salão da casa. Os músicos
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo IV
conversa, entretanto, prosseguiu ardente e entrou pela madrugada. E assim o namoro continuou, por uma, duas, três semanas, um mês. No final do segundo mês, ele anunciou que viria ao Brasil para encontrá-la.
E bem no auge da crise entre os pais, Vani anunciou-lhes que o “noivo” viria da Espanha, e que queria casar-se o mais rápido possível.
– Que noivo é esse? – quis saber Isabel – Eu trabalho naquela faculdade há anos, não conheço nenhum espanhol que estude lá.
– Ele não é da faculdade, mãe. Ele mora em Madrid, nunca veio ao Brasil. É viúvo e tem um filho de quatro anos... Nós estamos apaixonados.
– Presta atenção, minha filha! Você não está querendo me dizer que conheceu esse tal “noivo” pela Internet, está?
– Foi pela Internet, sim! O que tem de mal nisso? Ele vai ligar hoje, pra senhora e para o papai. O nome dele é Luciano Arroyo e vai chegar na quarta-feira que vem. O senhor Fabio, o pai dele também vem, para fazer o pedido, como é o costume deles. – disse calmamente, para desespero da mãe.
Naquela noite, como havia combinado com Vani, Luciano ligou. Os pais da moça ficaram encantados com a simpatia do espanhol. Por um pouco esqueceram as diferenças e trocaram impressões sobre o que estava acontecendo com a filha caçula. Assim, tudo foi preparado para a vinda do rapaz e do pai dele.
Vani e os pais foram esperar os hóspedes no aeroporto de Brasília. A moça fez questão de ir no próprio carro. Não queria perder nem um segundo da companhia do amado. Ao mesmo tempo, morria de medo de decepcionar-se ou, pior, que o rapaz ficasse decepcionado ao vê-la pessoalmente. Mas nada disto ocorreu. Os dois correram para os braços um do outro, deixando de lado os pais. O beijo tão esperado, finalmente aconteceu.
Luciano e o pai foram, por uma semana, hóspedes na mansão da família Noronha. Isabel, para assegurar-se de que a filha permaneceria virgem até o casamento, à noite, obrigava-a a dormir no quarto de sua irmã Marina.
Tudo foi acertado e o casamento foi marcado para o mês de abril. Luciano procurou a filial de uma empresa espanhola, em Brasília, onde conseguiu um ótimo emprego. Começaria o trabalho em maio, após o retorno da lua de mel. O rapaz e o pai retornaram à Espanha. O romance prosseguiu mais ardente do que nunca, via Internet e telefone.
Agora, diante do espelho, preparando-se para o casamento, Vani sentia o corpo quente, tinha a sensação que mãos invisíveis a acariciavam ousadamente. Ela sabia que na ala dos hóspedes, o seu amor espanhol experimentava o mesmo desejo e isto a excitava.
Os convidados lotavam todos os espaços do jardim e do salão da casa. Os músicos
Hull de La Fuente
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O SONHO DE VANI
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo III
encantadora que a desarmou. Um sorriso aflorou seus lábios ao lembrar do ocorrido:
– “Holla! Estoy hablando desde Madrid. Cuanto quieres por un beso?”
–“Porque no lo piedes a tu hermana? Yo non soy quien tu piensas!” – respondeu aborrecida – “Yo entré en esta sala solamente para estudiar, aprender el español”!
– “Discúlpame princesa! Mi nombre es Luciano. Yo quería solamente hacerte sonreír. Me gusta jugar”.
Daí por diante, a conversa tomou um tom ameno. Ele a convidou para conversar no Messenger e ela aceitou. Luciano contou que era viúvo e tinha 29 anos. Do casamento ficara um filho, o pequeno Arturo, de apenas quatro anos de idade. Era formado em informática e engenharia eletrônica. Falava quatro idiomas e era católico. Em função do trabalho que fazia, viajava muito, mas ainda não conhecia o Brasil.
Vani também falou de si, disse que era estudante do último ano de Direito, que estudava espanhol e inglês, porque pretendia trabalhar no Mercosul. Declarou ser presbiteriana e que toda a sua família também o era. Preferiu omitir o problema da recente separação dos pais, embora eles ainda continuassem sob o mesmo teto. Falou do amor que sentia pela mãe, com quem se identificava muito. Sobre o pai, disse apenas que ele era militar.
Vani tentava compreender o pai, mas, intimamente, achava que ele pouco se lixava com a vida das filhas. Era essa a impressão que ele passava a ela e à irmã.
Após duas horas de conversação, o rapaz a convidou para ligar a Webcam, ao mesmo tempo em que ligava a sua. Luciano encantou-se com a beleza de um metro e setenta da garota. Vestida de calças jeans e bustiê preto, a roupa realçava seu corpo perfeito, de apenas dezenove anos. Ele também era um homem bonito e alto. Os dois se enamoraram imediatamente.
A conversa entrou pela noite adentro. Depois, como era de se esperar, foi tomando um tom mais íntimo. Ele elogiou a beleza dela, falou de seus lábios provocantes, pediu que ela aproximasse o rosto da câmera, pois gostaria de olhar de perto seus olhos negros. Depois disse que daria parte da sua vida para beijá-la. A moça confessou nunca haver beijado ninguém. Contou que sua religião não permitia intimidades antes do casamento. Surpreso, perguntou-lhe se ela era virgem. Vani confirmou sentindo o rosto aquecer-se pelo rubor. Excitado, Luciano declarou que a beijaria todinha, se pudesse, naquele momento. Pela primeira vez, a moça sentiu o apelo da carne.
Luciano a conduzia a um mundo novo. Ele pediu que ela lhe mostrasse os seios. Vani recusou-se, embora tivesse receio de desagradá-lo. Sem constrangimento e para surpresa dela, o rapaz despiu-se diante da câmera. Era a visão do paraíso. Vani chorou de desejo e de pudor. Luciano se comoveu com a pureza dela. Para não constrangê-la ainda mais, pegou um robby de seda e cobriu a nudez. A
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo III
encantadora que a desarmou. Um sorriso aflorou seus lábios ao lembrar do ocorrido:
– “Holla! Estoy hablando desde Madrid. Cuanto quieres por un beso?”
–“Porque no lo piedes a tu hermana? Yo non soy quien tu piensas!” – respondeu aborrecida – “Yo entré en esta sala solamente para estudiar, aprender el español”!
– “Discúlpame princesa! Mi nombre es Luciano. Yo quería solamente hacerte sonreír. Me gusta jugar”.
Daí por diante, a conversa tomou um tom ameno. Ele a convidou para conversar no Messenger e ela aceitou. Luciano contou que era viúvo e tinha 29 anos. Do casamento ficara um filho, o pequeno Arturo, de apenas quatro anos de idade. Era formado em informática e engenharia eletrônica. Falava quatro idiomas e era católico. Em função do trabalho que fazia, viajava muito, mas ainda não conhecia o Brasil.
Vani também falou de si, disse que era estudante do último ano de Direito, que estudava espanhol e inglês, porque pretendia trabalhar no Mercosul. Declarou ser presbiteriana e que toda a sua família também o era. Preferiu omitir o problema da recente separação dos pais, embora eles ainda continuassem sob o mesmo teto. Falou do amor que sentia pela mãe, com quem se identificava muito. Sobre o pai, disse apenas que ele era militar.
Vani tentava compreender o pai, mas, intimamente, achava que ele pouco se lixava com a vida das filhas. Era essa a impressão que ele passava a ela e à irmã.
Após duas horas de conversação, o rapaz a convidou para ligar a Webcam, ao mesmo tempo em que ligava a sua. Luciano encantou-se com a beleza de um metro e setenta da garota. Vestida de calças jeans e bustiê preto, a roupa realçava seu corpo perfeito, de apenas dezenove anos. Ele também era um homem bonito e alto. Os dois se enamoraram imediatamente.
A conversa entrou pela noite adentro. Depois, como era de se esperar, foi tomando um tom mais íntimo. Ele elogiou a beleza dela, falou de seus lábios provocantes, pediu que ela aproximasse o rosto da câmera, pois gostaria de olhar de perto seus olhos negros. Depois disse que daria parte da sua vida para beijá-la. A moça confessou nunca haver beijado ninguém. Contou que sua religião não permitia intimidades antes do casamento. Surpreso, perguntou-lhe se ela era virgem. Vani confirmou sentindo o rosto aquecer-se pelo rubor. Excitado, Luciano declarou que a beijaria todinha, se pudesse, naquele momento. Pela primeira vez, a moça sentiu o apelo da carne.
Luciano a conduzia a um mundo novo. Ele pediu que ela lhe mostrasse os seios. Vani recusou-se, embora tivesse receio de desagradá-lo. Sem constrangimento e para surpresa dela, o rapaz despiu-se diante da câmera. Era a visão do paraíso. Vani chorou de desejo e de pudor. Luciano se comoveu com a pureza dela. Para não constrangê-la ainda mais, pegou um robby de seda e cobriu a nudez. A
Hull de La Fuente
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O SONHO DE VANI
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo II
pala pra trás, como um garoto. Isabel odiava vê-lo vestido daquela maneira. As roupas antigas foram esquecidas no “closet” que os dois haviam compartilhado até a descoberta da traição. Ivan se transferira para a ala de hóspedes da mansão. Isabel sentia-se a última das mulheres. O corpo quase obeso, em nada a ajudava. Da bonita mulher que fora um dia, nada restara. As feições duras acentuavam-lhe ainda mais as rugas. Só o trabalho na faculdade, onde lecionava, lhe dava satisfação. Para piorar o seu estado de ânimo, Vani, a filha querida, bonita, estudiosa, equilibrada, perdera totalmente o juízo. “Conhecera”, numa sala de bate-papo da Internet, o rapaz espanhol com quem se casaria dentro de poucas horas.
Os colegas da Faculdade de Direito, em vão, tentaram convencê-la a esperar o final do curso. Ponderavam: “Só faltam seis meses para a nossa formatura, Vani! É o tempo que vocês terão para se conhecer melhor”. Os jovens da igreja presbiteriana, freqüentada por ela, fizeram apelo igual. A pedido de Isabel, o Pastor também a aconselhou. Falou da seriedade do matrimônio, das implicações, da responsabilidade, do amor não apenas físico. Mas ninguém foi capaz de demovê-la do casamento apressado. Ela não podia esperar mais, e Luciano também não.
O Coronel Ivan Noronha, enamoradíssimo, vivia sua fase do “laisser faire, laisser passer”* . Em nada colaborou para desestimular a filha. Pra ele só importava o amor em toda sua plenitude. Assim como não aceitava imposição ou palpite de ninguém, ele não gostaria de se opor ao momento de sonho e romantismo da filha.
Vestida com um roupão de piquê branco, Vani saiu do banheiro para o quarto. O cabeleireiro Marquinhos a esperava aos prantos. Uma sua assistente o seguia com um lencinho de cambraia na mão, secando-lhe o suor e as lágrimas. Calma, Vani sentou-se diante do enorme espelho de cristal e não disse uma palavra. Estava em outra dimensão.
Estressadíssimo, o cabeleireiro berrava com todos a sua volta:
– Meu Deus! É hoje que a minha fama vai pras cucuias. Metade dos meus neurônios se consumiu, estão em curto circuito. Não há profissional que resista a tamanho stressss!!!!! Vani, você conseguiu me desestruturar! – a voz esganiçada se ouvia no andar de baixo, para diversão dos cozinheiros e garçons, que se movimentavam entre a cozinha e o salão de festa.
No imenso jardim, idealizado por um paisagista famoso, mesas lindamente decoradas se espalhavam. Os músicos perfeitamente vestidos e afinados tocavam um repertório bastante eclético, indo do popular brasileiro a algumas peças espanholas e outras clássicas, tudo escolhido pelos noivos.
Vani foi cercada pela equipe de profissionais. Enquanto maquiadores e cabeleireiros cuidavam dela, seus pensamentos voltaram ao dia em que encontrou Luciano na sala de bate-papo. Foi no dia seis de janeiro. Quatro meses antes. No começo ele brincou e ela não gostou da brincadeira. Luciano pediu desculpas de maneira tão
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo II
pala pra trás, como um garoto. Isabel odiava vê-lo vestido daquela maneira. As roupas antigas foram esquecidas no “closet” que os dois haviam compartilhado até a descoberta da traição. Ivan se transferira para a ala de hóspedes da mansão. Isabel sentia-se a última das mulheres. O corpo quase obeso, em nada a ajudava. Da bonita mulher que fora um dia, nada restara. As feições duras acentuavam-lhe ainda mais as rugas. Só o trabalho na faculdade, onde lecionava, lhe dava satisfação. Para piorar o seu estado de ânimo, Vani, a filha querida, bonita, estudiosa, equilibrada, perdera totalmente o juízo. “Conhecera”, numa sala de bate-papo da Internet, o rapaz espanhol com quem se casaria dentro de poucas horas.
Os colegas da Faculdade de Direito, em vão, tentaram convencê-la a esperar o final do curso. Ponderavam: “Só faltam seis meses para a nossa formatura, Vani! É o tempo que vocês terão para se conhecer melhor”. Os jovens da igreja presbiteriana, freqüentada por ela, fizeram apelo igual. A pedido de Isabel, o Pastor também a aconselhou. Falou da seriedade do matrimônio, das implicações, da responsabilidade, do amor não apenas físico. Mas ninguém foi capaz de demovê-la do casamento apressado. Ela não podia esperar mais, e Luciano também não.
O Coronel Ivan Noronha, enamoradíssimo, vivia sua fase do “laisser faire, laisser passer”* . Em nada colaborou para desestimular a filha. Pra ele só importava o amor em toda sua plenitude. Assim como não aceitava imposição ou palpite de ninguém, ele não gostaria de se opor ao momento de sonho e romantismo da filha.
Vestida com um roupão de piquê branco, Vani saiu do banheiro para o quarto. O cabeleireiro Marquinhos a esperava aos prantos. Uma sua assistente o seguia com um lencinho de cambraia na mão, secando-lhe o suor e as lágrimas. Calma, Vani sentou-se diante do enorme espelho de cristal e não disse uma palavra. Estava em outra dimensão.
Estressadíssimo, o cabeleireiro berrava com todos a sua volta:
– Meu Deus! É hoje que a minha fama vai pras cucuias. Metade dos meus neurônios se consumiu, estão em curto circuito. Não há profissional que resista a tamanho stressss!!!!! Vani, você conseguiu me desestruturar! – a voz esganiçada se ouvia no andar de baixo, para diversão dos cozinheiros e garçons, que se movimentavam entre a cozinha e o salão de festa.
No imenso jardim, idealizado por um paisagista famoso, mesas lindamente decoradas se espalhavam. Os músicos perfeitamente vestidos e afinados tocavam um repertório bastante eclético, indo do popular brasileiro a algumas peças espanholas e outras clássicas, tudo escolhido pelos noivos.
Vani foi cercada pela equipe de profissionais. Enquanto maquiadores e cabeleireiros cuidavam dela, seus pensamentos voltaram ao dia em que encontrou Luciano na sala de bate-papo. Foi no dia seis de janeiro. Quatro meses antes. No começo ele brincou e ela não gostou da brincadeira. Luciano pediu desculpas de maneira tão
Hull de La Fuente
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“O SONHO DE VANI”
(Um conto real, apenas os nomes foram trocados para preservação de identidades.)
(Hull de La Fuente)
Capítulo I
A água do chuveiro escorria acariciando as curvas do bonito corpo de Vani. O perfume do sabonete e do xampu se misturava à nuvem de vapor causado pela alta temperatura da água, invadindo os corredores da bonita casa.
Feliz, ela cantarolava e esfregava a esponja ensaboada na nuca, nos seios firmes e no umbigo. Seus pensamentos eram todos para o grande momento que viveria, dentro de poucas horas. No quarto ao lado, um batalhão composto por cabeleireiro, maquiador, costureiro e auxiliares a esperavam para prepará-la. Dona Isabel, como toda mãe de noiva, batia na porta do banheiro, chamando-a nervosa:
– Vani! Olha a hora! Você está deixando todos nervosos!
– Hein? O que você falou? Não estou ouvindo. Espera eu terminar o banho – gritou através da porta.
– O Marquinhos já roeu todas as unhas! Ele disse que não vai dar tempo de secar essa sua cabeleira toda.
– Diga pra ele deixar de frescura. Só quem pode ter chiliques hoje, sou eu! – gritou de novo, passando a mão no vidro esfumaçado do Box.Queria olhar-se nua no espelho. O que viu, agradou-a. Imaginou Luciano acariciando seu corpo, naquela noite. Seria a coroação do sonho de ambos. Um frêmito de excitação deixou-a com a pele arrepiada de desejo. Era melhor terminar o banho. Abriu de novo o chuveiro e recomeçou a cantar, para o desespero da mãe.
– Fecha esse chuveiro Vani! Será que eu vou ter que chamar o ridículo do seu pai para arrombar esta porta? Pelo menos pra isto ele serve. Ainda mais nervoso como ele está. – admoestou-a, preocupada com a demora, mais pelo noivo, do que pelas pessoas que esperavam para arrumar a filha.
Isabel viu a própria imagem no espelho do quarto da filha. Aquela não era a imagem de uma mulher feliz, muito menos de uma mulher bonita. De que adiantava a roupa cara que estava usando, se nada lhe ficava bem? Em cinco meses sua vida sofrera mudanças radicais. Primeiro, o casamento de vinte e seis anos, havia terminado. O marido, oficial da Aeronáutica, deixara-a por uma moça da mesma idade da filha deles, Marina, de 22 anos. Brigar para reconquistá-lo não fazia sentido. A humilhação da troca por uma jovem, não tinha perdão.
Há muito os dois não se falavam. Só naquela semana, com a chegada do futuro genro e devido aos preparativos do casamento, eles voltaram a se falar. Isto é, falavam apenas o necessário, para não dar má impressão ao rapaz. O “Coronel Ridículo”, como passara a chamá-lo, havia sido reformado. Com sessenta anos de idade, dono de um corpo atlético, cabelos pintados, para esconder a brancura, passava a maior parte do dia no Clube, conversando com outros militares, também reformados. Foi ali que conheceu a garota por quem se apaixonou.
O jardim da bela mansão, antes tão bem cuidado por ele, assim como outras coisas que gostava de fazer, como a leitura, não mais lhe interessavam. Agia como um jovem e vestia-se igual aos rapazes de vinte anos, até os bonés ele usava com a
Hull de La Fuente
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