sábado, 17 de setembro de 2011

O casamento de Dorotéia (parte3)





O CASAMENTO DA DOROTÉIA
Fui home pra sete muié, mais cada quá de u’a vêiz
(Airam Ribeiro)

Quem tempo aqui tivé
E priguiça tomÉm nun tê
A históra das sete muié
Qui a Hull ta quereno sabê
Taí contada procêis
Agora xegô a sua vêiz
É só cumeçá a lê!

Cuma nun vô min alembrá
Da minha muié Dorotéia?
Era u’a muié doce pra daná
Cuma um favo de corméia
Daquele meu casamento
Inda ta no pensamento
Meu grande amô pur Tetéia.

Tetéia era cuma eu xamava
Nas minha intimidade
U’a muié pura queu amava
Antis de ir pra eternidade
Morreu nova mais dexô
Seis fizinho seis amô
Para a minha filicidade.

Um casamento cum véu
Naquele vinte e um de maio
Onde os rojão lá no céu
Estorava sem da trabaio
Foi mermo uma epopéia
Meu casamento cum Tetéia
A muié dos meu insaio.

Aos meu fios qui ficô
Eu dava muitios carinho
Dediquei o meu amô
A eles dento do ninho
Mais de noite a solidão
Inrriba do meu coxão
Num min dexava sozinho.

Já cansado de sofrê
Cum essa triste solidão
Um dia cunicí a Berê
Na mercearia do seu Betão
E papo vai papo ia
Nois marquemo um dia
Pra cuiecê meu coxão.

Dias depois a Berê
Veio cumigo falá
Sua barriga tava a cescê
E foi o jeitio nóis casá
Casemo o fio nasceu
Mais de parto ele morreu
Dexô trigemo preu criá.

E os trigemo intão cresceu
Cum outros seis queu já tinha
O tempo foi só passano e eu
Arranjei outra muiezinha
Foi no dia de São Sebastião
Qui ganhei seu coração
O nome dela era Zefinha.

Cum ela fiquei treis ano
E foi trêis fio nesse tempo
Um dia tive um dizingano
Oia só os meu lamento
Zefinha sufria dos purmão
E min dexô na solidão
Queu falei eu nun agüento.

Ficá de novo sozin
E cum doze fio pra criá?
Mais eis qui surge de finin
Na minha frente pra ajudá
A fia de dona Tertulina
De nome de Cartuprina
Qui foi na minha casa morá.

Cuma essa era boa paridêra
E só fio gemo era qui ela paria
Foi cinco ano quéça cumpanhêra
E nesse cinco ano dez cria
Quando os doze ia interá
A morte vêi li buscá
Levano todos no mermo dia.

Vinte dois fio, qui maravia!
Nun percisava coisa mió
Vinte e duas borça famia
Pra inxê o bogrodó
Mais pur cauza desse diêro
Eu vi o panavuêro
Nun agüentava mais ficá só.

Os cauzo vô incurtá
Viéro mais outras muié
Min cazei cum Varmirá
Depois vêi a Izabé
Maria foi a anti penúrtima
E agora tô cum a úrtima
A Chiquinha de Catulé.

As quatro úrtima citada
Oito fio min prezentiô
Nun recramo de nada
São trinta fio meus amô
Mais a Chiquinha de Catulé
Diz pra min quinda qué
Pari mais quato dotô!

Eu nun sei se é açuca
Qui botáro pra tempêro
Só sei qui quando futuca
O trem sobe pur intêro
Eu nun quero nem sabê
Só sei qui antes deu morrê
Vô dá mais uns pulo premêro.

Num é o qui almejo
Morte niuma de ninguém
Eu aqui bem qui pelejo
Num vê perto de mim esse trem
E se a Chiquinha de Catulé
Cum a morte ajuntá os pé
Caso de novo ni Itanhém.

Fui home pra sete muié
Trinta fios elas min deu
Contei tudo no cordé
A históra qui cunticeu
Rosa Serena nun atiça
Conto o cauzo da linguiça
É só ocê isperá ieu.

(Airam Ribeiro)



Hull de La Fuente

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