sábado, 17 de setembro de 2011

O sonho Kafkiano




O SONHO KAFKIANO
A MÃO MACIA QUE ESCORRIA DEDOS
TOCOU-ME O SEIO FEITO DE TOMATE.
O VELHO PADRE COM ASAS DE MEDO
ME CONDENOU A VIRAR MASCATE.
E NAS ANDANÇAS PELO MUNDO CINZA,
PEÇO SOCORRO AO COPO DE VINHO,
TENTO ESCAPAR DE UMA LARANJA NUA,
QUE ME PERSEGUE CHEIA DE ESPINHO,
MOSTRANDO OS DENTES DENTRO DA SOPEIRA,
QUE DANÇA VALSA NO MEIO DA RUA.


UMA MENINA QUE NÃO TEM CABEÇA,
ME CUMPRIMENTA COM ACENO BREVE,
SUBO CORRENDO OS DEGRAUS QUE DESCEM,
DA CACHOEIRA DO RIO DE NEVE.
TENTO FALAR, MAS NINGUÉM ESCUTA,
GRITO UM SUSPIRO COM SOM DE SORVETE.
ALGUÉM ME ACUDA! POIS EU ME DERRETO!
NINGUÉM ME OUVE, VOU FUGIR SONHANDO,
NAS ASAS BRANCAS DE UM GATO AZUL.
MEU TRAVESSEIRO É UMA ANDORINHA,
QUE VOA EM “S” EM DIREÇÃO AO SUL.


TENTO ACORDAR, MAS NÃO É A HORA,
A CAMA ROSA ME ABRAÇA AGORA.
A ORQUIDEA LÂMPADA GRUDADA NO TETO,
PISCA-ME O OLHO DE VIDRO AMARELO.
E O HOMEM GRÁVIDO SEGURANDO O FETO,
NADA NAS ONDAS DA PLACENTA ABERTA.
O VELHO PADRE COM ASAS DE MEDO,
SORRI AOS CORVOS E CONTA UM SEGREDO.


A FRIA ÁGUA DO RIO AVALON,
BANHA A MENINA QUE NÃO TEM CABEÇA
QUE ESPIRRA CRAVOS PELAS AXILAS
E COME SARDINHA NA PONTA DO DEDO.
AS ANDORINHAS DE PERNAS DE AÇO,
VOAM EM VOLTA DA ESTRANHA MENINA,
O GATO AZUL LHE DÁ UM ABRAÇO,
A BRUMA CHEGA E O SONHO TERMINA.


(Hull de La Fuente)

Reeditado para fazer minha mais nova amiga de infância, Zelia Maria Freire, dar risadas. Zelinha, depois que eu li a sua crônica maravilhosa "Lendo, Aprendendo, Pensando", com a teoria de Martin Heidegger, a sua e mais outros filósofos, minha cabeça ficou zuretinha... Fui resgatar no passado, este texto já publicado aqui no RL, pra ver se desentorta o cérebro.
Beijinhos,
Hull




O poeta e amigo Eurípedes Barbosa Ribeiro fez esta divertida observação ao meu poema surrealista:

 
Esse moço tá maluco
Ou ainda está em Processo
Se já não está caduco
Está pra lá de possesso.
 Esse Kafka andou cheirando
Um baseado qualquer
Tá pirado ou tá pirando
Acredite quem quiser!
 Pois para mim esse sonho
Tá pra lá de pesadelo
Um sonho assim tão medonho
Sei que é bem melhor não tê-lo!
 Um beijo Hull. E parabéns pela criatividade.
Uma boa tarde.


Euripedes Barbosa Ribeiro
Hull de La Fuente

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